22 de dez. de 2007

Seven Steps to Heaven


(Preciso começar hoje pedindo desculpas pelo atraso. Eu tive alguns problemas aqui em Boston com a neve e os aeroportos, e acabei tendo que ficar mais alguns dias. Nada que um bom jazz não resolveu...)

Vou falar hoje de um grupo que eu tenho escutado muito aqui em Boston, e que é de tão grande importância, que merece vir primeiro de qualquer maneira. Em 1963 o já lendário trompetista americano Miles Davis estava à procura de novos músicos para o seu quinteto, que já havia ajudado a lançar artistas como John Coltrane, Bill Evans, Hank Mobely e Paul Chambers, entre outros. A saída do trio Wynton Kelly, Jimmy Cobb e Paul Chambers fez Miles decidir começar do zero, e recrutar o baixista Ron Carter e o saxofonista George Coleman para a sua nova banda que passou por várias formações. Em 1964, o “second great quintet” de Miles estava pronto. O grupo consistia de Miles Davis no trompete, Wayne Shorter no sax tenor, Herbie Hancock no piano, Ron Carter no baixo e o menino Tony Williams na bateria. Esse último e Bostoniano, por sinal, e daí vem a ligação com a minha nova cidade. Com esta formação definitiva que muitos consideram como o melhor grupo de todos os tempos do jazz, o segundo grande quinteto gravou cerca de 7 discos em 4 anos de existência, todos lançados pelo selo Columbia, ate que Miles resolveu dar a louca e entrar pro mundo da eletricidade (por culpa do Tony e do Herbie...).


Por que então dizem que o tal grupo, que durou só 4 anos, pode ter sido o mais importante da historia do jazz? Bom, a resposta está na música, e mais importante, na interpretação das músicas. Rodeado de jovens instrumentalistas, Miles tinha a banda perfeita para a época em que o mundo inteiro estava em revolução. A vertente “Free” do Jazz, criada pela grande atenção dos músicos as lutas e revoluções pelos direitos humanos havia criado uma musica maluca, cheia de dissonâncias e liberdade rítmica. Esse quinteto foi uma das mãos no empurrão necessário para a adaptação em massa da liberdade musical no Jazz. Wayne Shorter, um improvisador intensivo e um compositor magnífico, fazia as honras de solista junto ao Miles. A “rhythm section” ficou por conta de Ron, Herbie e Tony, três músicos visionários e virtuosos ao mesmo tempo. Miles era quem segurava as rédeas, não deixando de inovar como sempre.

Para manter curto, eu vou parar por aqui. Mas não vou deixar de recomendar a vocês alguns discos para que vocês possam sentir na pele o que esse pessoal fez pelo Jazz:


Seven Steps: The Complete Columbia Recordings 1963 – 1964 – Essa e uma “Box-set” que documenta a criação do trio, passando pela fase com George Coleman, a entrada de Herbie e Tony, uma visita do incrível Sam Rivers, e finalmente terminando com a entrada de Wayne Shorter.


Nefertiti – O meu disco preferido da formação final do quarteto. Gravado em estúdio.


Live At The Plugged Nickel 1965 – Você nunca conhecera a forca de um grupo de jazz se não escutá-los ao vivo. Essa gravação e a sua chance. Apesar do material em Seven Steps ser quase inteiro ao vivo, aqui o grupo já esta experimentando bem com a nova musica que eles ajudaram a criar.

Desejo a vocês um bom natal. Ate segunda!

Mers

Escutando: ‘Joshua’

Miles Davis – Trompete
George Coleman – Sax Tenor
Herbie Hancock – Piano
Ron Carter – Baixo
Tony Williams – Bateria

Do disco “Four & More – Miles Davis in Concert”

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